sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O homem romântico...

O homem romântico é um herói titânico, combate a opressão das leis, representando os socialmente ostracizados. Convicto que domina a natureza, a vida é para ele um problema insolúvel, o instinto egocêntrico mostra no entanto que é arrastado por forças que não consegue controlar, por um cego destino. O que o leva a uma busca incessante pela perfeição e o infinito, com uma inquietação febril, como se de uma melancolia patológica se tratasse por algo que não consegue atingir mas que anseia com todas as suas forças, levando-o a evocar, como Baudelaire, o destino cruel da humanidade – a morte. Olhos fitos num mundo superior que a razão não sabe definir, o romântico começa a idealizar, a fazer de conta. O seu coração inquieto e generoso deixa-se embalar num certo espiritualismo e vai lançar-se no culto da Humanidade, da Pátria, da mulher. Refugia-se no sonho, no fantástico, oscilando entre o pessimismo confessado e os desejos de um contentamento e satisfação sempre longínquos. Obviamente o idealista que constrói castelos no ar ao baixar à realidade e ao confrontar-se com a realidade, ao não encontrar o seu mundo sente-se atraiçoado, desterrado, desenganado. O regresso ao mundo onde coexistem anjos e demónios, o & laquo; anjo maldito» o «fatal e estranho ser». Mas qual o caminho a que conduz o desengano? Só existe uma solução: FUGIR. O homem Romântico é um fugitivo errante. De terra em terra como Chateaubriand, Byron e Garret; Na idade Média, na paisagem do exótico oriente como Walter Scott, Herculano e Vítor Hugo; Outros fogem de fora para dentro, introvertendo-se, subjectivando tudo; alguns vão mais longe e suicidam-se, fugindo assim apressadamente para a eternidade, como Kleist, Nerval, Camilo, Antero de Quental, Florbela Espanca, Trindade Coelho. No Romantismo nota-se o predomínio da emoção, do sentimento sobre a razão e o espírito ordenador dos clássicos. O Culto do «EU» e dos direitos do coração sobrepõe-se às imposições orientadoras da inteligência (reacção contra o racionalismo clássico). Tendo presente a concepção do «eu» de Ficht, pode dizer-se que os românticos inspiraram-se nele e de imediato proclamaram uma arte que fosse expressão directa do homem perante a natureza. Esta no entanto teria que ser cumulativamente original e sincera ao ponto de provocar no artista a confissão dos seus estados de alma. À heróica época medieval junta-se a idealização do «locus horrendus», paisagem agreste exótica, de um nocturno sepulcral, luarenta, melancólica mas ao mesmo tempo sensual espelhando, muitas das vezes, o estado de espírito do romântico. Ao contrário dos clássicos o homem romântico sente a doce volúpia no sofrimento e prefere registar as situações de dor, de melancolia e ambientes de nebulosidade nórdica como o entardecer, o escurecer, a noite, as florestas sombrias, as cavernas, as ruínas, os agouros, os sonhos, a morte. A personagem romântica mergulhada nesta melancolia pessimista, procura evadir-se umas vezes para o além-morte através do suicídio, outras vezes para o convento, o sacerdócio, a solidão, a loucura. Existe no romantismo, relativamente aos aspectos formais, uma subversão completa de estilos, numa atitude de rebeldia, baseada numa independência crítica – o génio criador não mais está amarrado às “galés do classicismo”. Com excepção do soneto, criam-se novos agrupamentos estróficos, proíbem-se as imitações paradigmáticas dos escritores Greco-romanos e não se admitem as divisões dos géneros clássicos; numa nova estrutura e linguagem de romance – com um narrador ausente; com heróis tradicionalmente medievais; usando um vocabulário rico em alusões concretas, menos erudito, mais familiar que o clássico, baseado em historietas, à peripécia inesperada –; e finalmente com tendências bem definidas e antagónicas relativamente ao classicismo (Razão v Coração; O geral v O individual; O objectivo v O subjectivo, o pessoal; A vontade, o heroísmo v A melancolia, o abatimento; A inteligência v As sensações; O culto da antiguidade greco-latina v O culto da Idade Média e dos tempos modernos) A única norma a que o romântico se sujeita é o instinto, a paixão que o leva, num certo espiritualismo, a buscar a perfeição da mulher-anjo, encaminhando toda a potencialidade para o amor que simultaneamente, o prende e o destrói. A novidade está na mudança profunda da sensibilidade, a natureza intensa do sentimento expresso. Nessa medida há autores que defendem que o romantismo não é primordialmente um fenómeno estético, mas um modo de viver e que o artista romântico ou é o ser que se apresenta incompreendido ou, por outro lado, em nome da arte, acha-se com o direito de ditar leis. Os desvarios devem-se à má interpretação da natureza humana, compreendida à maneira de Rosseau «o homem é naturalmente bom, é a sociedade que o perverte» ou «o homem deve seguir um só e único guia: a sua consciência, instinto divino, voz imortal e celeste».
Os românticos tentando interpretar esta filosofia de vida caíram no exagero, na busca de um «homem universal», de carácter superior, mas acabaram por encontrar apenas aqueles que viviam à margem da sociedade dominados pelas mais violentas emoções, num desejo incontido de quebrar as correntes que os prendiam à sociedade.
Fonte: Google

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