quinta-feira, 27 de agosto de 2009

«Descobrir o essencial»

Por: MANUEL GIRALDES Alem mar
Em tempos de consumismo desenfreado, muita gente sente a necessidade de recuperar o lado gratuito da vida, de encontrar trocas que não sejam mediadas pelo omnipotente e omnipresente cifrão. Por vezes, tudo começa com uma crise, uma sensação de mal-estar enxertada de um vago desejo de mudança. Geralmente, o que se busca é um sentido. Algo que não se compra no centro comercial nem se vende na loja de marca.
Mónica estava muito bem a tirar o seu curso quando lhe surgiu uma dessas vagas de inquietação. Ao decidir ir para a Guiné, ao abrigo de um programa de cooperação ligeiro feito a pensar em jovens universitários - que passa por projectos pontuais, como a formação de professores, o apoio à criação de bibliotecas e o trabalho com crianças -, a família e os amigos não acreditaram lá muito nas suas motivações: «Isso é porque estás chateada, porque não consegues emprego, porque queres ir para freira...»
Foi. Reincidiu, ao ir para Angola. E a experiência mudou-a: «A primeira vez que se chega a África, a sensação é brutal, porque tudo está mais em bruto. Mas parece que o sentido da vida nos é oferecido de bandeja. Porque nos sentimos úteis, porque não somos anónimos, porque aprendemos a relativizar as coisas e chegamos muito mais facilmente ao que é essencial, em nós e nos outros. Não ter água ou luz torna-se relativo. Por exemplo, no Hospital Simões Mendes, as mulheres tinham uma única refeição por dia, mas ofereciam-me do seu arroz. Agora, cá, não tenho coragem de dizer que não me apetece um bife com batatas fritas...»
Mónica não pensa que ir para a África seja uma panaceia universal. Adverte: «Se o impacto for verdadeiro, ao voltarmos obrigamo-nos a agir.» Ela assim fez. Ao regressar, passou a fazer parte da equipa do Instituto de Solidariedade e Cooperação Universitária (ISU), uma organização não governamental que, entre várias actividades, apoia a integração dos estudantes provenientes dos países lusófonos, faz cooperação para o desenvolvimento e dá formação a candidatos a voluntários.
Não, o voluntariado não é uma espécie de aspirina para os males da sociedade moderna ou as angústias existenciais de cada um. Se não houver um compromisso bem ponderado e consciente, nunca se passa das boas mas vagas intenções.

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